Especialistas afirmam que a evolução da Inteligência Artificial (IA) transformará o ser humano por completo.
A Inteligência Artificial como conhecemos hoje tem seus dias de criação bem antes da civilização moderna. O ser humano, desde a pré-história, acredita que existe uma inteligência superior e que um dia irá conhecê-la. Religiões e guerras foram criadas com essa justificativa. De acordo com Pamela McCorduck, autora norte-americana sobre filosofia e história da tecnologia, a Inteligência Artificial é “um desejo antigo de forjar os deuses”.
Não é comum ligar a ciência a esses conceitos filosóficos. Porém, é mais significativo do que se imagina. Após a Segunda Guerra Mundial, cientistas começaram a colocar no papel o desejo milenar de uma inteligência superior. Diversas teorias e projeções foram criadas e, com o decorrer dos anos, ultrapassadas. Mas isso não significa que uma foi mais importante do que a outra, pois toda pesquisa científica teve o seu papel na evolução da IA.
- 1943 | Warren McCulloch e Walter Pitts | 1° artigo que fala sobre a criação de redes neurais (modelo matemático)
- 1950 | Claude Shannon | desenvolve o programa para jogar xadrez usando cálculo de posições simples
- 1951 | SNARC, de Marvin Minsky | criação da calculadora que simula sinapses
- 1952 | Arthur Samuel | jogo de damas com autodesenvolvimento
- 1956 | Conferência de Dartmouth | criação oficial do campo de pesquisa em Inteligência Artificial
- 1957 | Percepton | rede neural com 1 camada
- 1958 | LISP | nova linguagem de programa para IA
- 1959 | Machine Learning | criação do termo
- 1964 | Eliza | primeiro chat bot
- 1969 | Shakey | primeiro robô com mobilidade, fala e autonomia
- 1997 | IBM | famosa partida de xadrez entre um humano e uma IA
A origem cienfica da Inteligência Artificial
A origem científica da Inteligência Artificial pode ser dividida em duas etapas: a fase das regras, também chamada de sistemas simbólicos, e a fase das redes neurais. Em um primeiro momento, os pesquisadores acreditavam que poderiam incluir regras racionais num sistema de inteligência artificial. Assim, ele faria escolhas baseadas nessas normas. Como em um sistema de entrada e saída, inclui-se uma regra e espera-se que seja dada a resposta correta. Porém, esta metodologia nem sempre deu certo. Um dos primeiros desafios da história da Inteligência Artificial foi a limitação de dados comparativos e a incapacidade de operacionar casos complexos.
Assim como o cérebro humano começou a enfrentar problemas complexos e se desenvolveu para superá-los, a Inteligência Artificial também teve que se reinventar. A solução seria criar uma nova metodologia de aprendizagem. Foi então que os cientistas se inspiraram no cérebro biológico e desenvolveram softwares parecidos com as redes neurais. No livro “Inteligência Artificial: como os robôs estão mudando o mundo, a forma como amamos, nos relacionamos, trabalhamos e vivemos”, o CEO da Sinovation Ventures, ex presidente da Google China e executivo da Microsoft e da Apple, Kai-fu Lee, explica essa segunda etapa histórica da IA.
“Ao contrário da abordagem baseada em regras, os construtores de redes neurais em geral não fornecem às redes regras a serem seguidas na tomada de decisões. Eles simplesmente inserem muitos exemplos de um determinado fenômeno – imagens, jogos de xadrez, sons – nas redes neurais e permitem que as próprias redes identifiquem padrões dentro dos dados. Em outras palavras, quanto menos interferência humana, melhor”
ressalta Kai -fu Lee.
A mudança na prática fez com que a Inteligência Artificial tomasse novos ares. Contudo, para que esse sistema de ensino funcione é necessário um grande banco de dados. Por isso, dois países se destacaram na corrida pela IA baseada em redes neurais: China e Estados Unidos. De um lado, o Vale do Silício coleta dados de comportamentos online – curtidas, acessos, inscrições, posts. Do outro lado, as empresas chinesas desenvolveram sensores capazes de transformar as informações off-line em dados online. Atravessar a rua, comprar um lanche e mudar o caminho de casa são detalhes que dão a impressão de não estarem ligados com a IA. Através de câmeras e sensores eles são transformados em códigos binários.
“O aprendizado profundo só pode otimizar o que consegue “ver” por meio de dados, e o ecossistema de tecnologia com base física da China dá a esses algoritmos muitos mais olhos para o conteúdo de nossas vidas diárias. À medida que a IA começa a “eletrificar” as novas indústrias, o aproveitamento chinês dos detalhes confusos do mundo real dará uma vantagem sobre o Vale do Silício”
explica Lee.
Didaticamente, a evolução da Inteligência Artificial é dividida em 4 ondas: a IA de internet, de negócios, de percepção e autônoma. As duas primeiras ondas já estão transformando o universo virtual e financeiro. A terceira, por sua vez, digitaliza o universo físico – sendo a China a sua maior investidora. “Essa onda promete revolucionar a forma como vivenciamos e interagimos com o nosso mundo, atenuando as linhas entre o digital e o físico”, ressalta o autor. Por último, a Inteligência Artificial atingirá a quarta onda, com um profundo impacto social: “À medida que carros autônomos tomem as ruas, drones autônomos tomem os céus e robôs inteligentes tomem as fábricas, eles vão transformar tudo, da agricultura orgânica a viagens por autoestradas e o fast-food”, aponta Lee.
Durante o processo de evolução da IA, a competição bilateral continua. Para garantir o sucesso, EUA e China precisam investir em pesquisas, gerar e agregar dados e incentivar investidores privados a arriscar em nome do poder tecnológico. Sobre esta guerra, o autor explica: “Todas essas quatro ondas se alimentam de diferentes tipos de dados, e cada uma delas apresenta uma oportunidade única para que os Estados Unidos ou a China assumam a liderança Veremos que a China está em uma posição forte para liderar ou coliderar na IA da internet e na IA de percepção, e provavelmente em breve alcançará os Estados Unidos na IA autônoma. Hoje, a IA de negócios continua sendo a única arena na qual os Estados Unidos mantêm uma liderança clara”.
Kai-fu Lee acredita que, na sua fase madura, a Inteligência Artificial irá atingir questões éticas e morais. Para o autor, o crescente desenvolvimento tecnológico está fazendo com que o ser humano repense suas prioridades. Lee explica que diversas funções poderão ser automatizadas e haverá mais tempo para o ócio. Em contrapartida, tarefas que dependem de emoções e sentimentos serão realizadas pelas pessoas. O escritor exemplifica essa situação com o caso da medicina: IA irão fornecer diagnósticos precisos, mas não saberão como lidar com o paciente. Cabe ao médico trata-lo de forma mais empática. Como afirma o especialista, “a Inteligência Artificial nos tornará ainda mais humanos”.
Lee vai além e critica a competição tecnológica entre EUA e China. Ele afirma que a IA poderá solucionar questões fundamentais que existem antes mesmo do surgimento da filosofia: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. “Se acreditarmos que a vida tem um significado, além dessa corrida desenfreada material, então a IA pode vir a ser a ferramenta que nos ajudará a descobrir esse significado mais profundo”, conclui o Kai-fu Lee.